1. Apresentação da Jornada e descrição das atividades

Sentimos na pele que os desastres estão cada vez mais frequentes e intensos em múltiplos locais, no Brasil e no Planeta, por causa das mudanças climáticas. Esta Jornada Pedagógica traz atividades de monitoramento participativo da chuva com pluviômetros de baixo custo para prevenir os riscos que ‘anunciam’ os desastres, além de reduzir as vulnerabilidades das pessoas e comunidades instaladas nos territórios. 

Usamos a equação Água [D+ ou D-]=Desastre? como uma provocação para  refletirmos se o desastre (inundação, deslizamento de encostas, enxurradas ou secas) acontece somente devido à falta ou ao excesso de chuvas. Se for ‘culpa’ da chuva, ou castigo divino, então não tem jeito de prevenir os desastres. No entanto, ao considerarmos que os desastres não são ‘naturais’, mas socioambientais, podemos proteger as nossas comunidades.

A metodologia utilizada é a Ciência Cidadã aplicada à Educação em Redução de Riscos de Desastres (ERRD). A Ciência Cidadã democratiza o acesso das pessoas leigas, que participam ativamente da pesquisa, desde a coleta e produção de dados, até a análise e a difusão dos conhecimentos. O Programa CEMADEN Educação incentiva que os jovens atuem como cientistas cidadãos em suas comunidades utilizando estas habilidades para proteger a vida e prevenir desastres.

Concebida pelo Programa Cemaden Educação, em 2014, esta Jornada se tornou mais potente quando contou com o impulso do projeto de pesquisa internacional Dados à Prova d’ Água. Juntos, desenvolvemos um  aplicativo para celular (App) e um Painel de Observações (dashboard) utilizando metodologias participativas de pesquisa com atividades e protocolos, que possibilitam a observação e análise para compartilhar informações sobre o território. 

Esta Jornada Pedagógica Pluvipet + App abre oportunidades ímpares de vivenciar o território e transformá-lo em favor das comunidades das quais fazemos parte. Podemos assim mostrar que a verdadeira motivação pela ciência é a descoberta do mundo como parte de uma comunidade de aprendizagem, na qual as pessoas compartilham os conhecimentos. Então, teremos pessoas mais engajadas em aprender a aprender.

2. Questões de pesquisa

Questões de pesquisa que motivam e orientam esta Jornada Pedagógica.

  • Por que é importante saber o quanto choveu ou há quanto tempo não chove?
  • Como se observa e mensura o volume de chuvas no território da comunidade escolar?
  • Como as pessoas podem contribuir com as instituições de pesquisa a partir dos dados de pluviômetros artesanais disponibilizados num App?

3. Objetivos

  • Mobilizar comunidades para a produção colaborativa de dados cidadãos, em diálogo, entre saberes locais e a ciência;
  • Monitorar a ocorrência da chuva;
  • Interpretar dados pluviométricos, a dinâmica e a variabilidade da chuva no território em que a comunidade está inserida;
  • Participar da ampliação da rede observacional do Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil (SNPDEC)

4. Temas e componentes curriculares

Língua Portuguesa: Análise comparativa da diversidade de gêneros textuais. Pesquisa e produção textual a partir de textos jornalísticos, científicos e literários.

Matemática: Uso de instrumentais matemáticos em procedimentos de quantificação e análise. Unidades de medidas em volume, conversão de medidas. Conversão de escalas e unidades de medidas e apresentação dos dados. Elaboração e interpretação de gráficos e tabelas, resolução de problemas.

Química: Estados físicos da água e suas reações químicas, fenômenos climáticos: (efeito estufa, chuva ácida). Avaliação de aspectos sociais, tecnológicos, econômicos e ambientais envolvidos na produção, no uso e no descarte de substâncias.

Artes: Pesquisa e o desenvolvimento de processos de criação. Representação do pluviômetro (ilustrações, fotos, vídeos, animações). Ciência e a arte como expressões do pensamento humano, suas diferentes linguagens e formas de representação.  

Física: Processos físicos da atmosfera (pressão, temperatura, radiação, umidade, movimento da maré e astronomia). Conversão de escalas e unidades de medidas. Conceitos como clima, aquecimento global, efeito estufa, camada de ozônio etc.

Geografia: Espacialização do município. Coordenadas geográficas. Ocupação do território. Relevo. Interações entre ambiente terrestre e ambiente atmosférico. Condições climáticas e suas consequências ambientais e sociais. Previsão do tempo. Georreferenciamento. Eventos extremos. Vulnerabilidade socioambiental.

Biologia: Ciclos biogeoquímicos. Relação entre as atividades econômicas e as alterações nos ecossistemas. Avaliação dos impactos da transformação e adaptação do ambiente aos interesses de um sistema criado por seres humanos em detrimento de outros seres vivos do planeta. Emergência Climática.

5. Metodologia

A parceria da Ciência – Cemaden Educação – com os Sistemas de Ensino (comunidade escolar) e as Defesas Civis promove a educação científica e a comunicação de riscos e desastres.

O monitoramento participativo da ocorrência – ou não – de chuvas envolve:

(i) formar redes locais de observação da chuva com pluviômetros artesanais (podem ser de garrafa PET), usados para medir o volume de chuva. Estes devem ser instalados na comunidade escolar (casas, escolas, defesas civis e outros locais) para a prevenção de riscos de inundações e deslizamentos de terra;

(ii) coletar os dados em milímetros de chuva no território da comunidade escolar registrando em uma planilha e/ou no App, em especial onde não há instrumentos meteorológicos (pluviômetros automáticos, radares ou sensores);

(iii) compartilhar os dados do pluviômetro no App pelo celular. Os dados coletados e compartilhados circulam entre as escolas e comunidades, as instituições de pesquisa formando uma base de dados aberta, colaborativa e transparente;

(iv) utilizar o Painel de Observações (dashboard) no computador para realizar estudos e análises dos dados locais, comparando-os com outras redes observacionais e com fontes oficiais nacionais (Cemaden, Agência Nacional de Águas – ANA, Defesa Civil, INMET…);

(v) incluir a comunidade escolar no monitoramento participativo de chuva para ampliar o alcance da rede observacional;(vi) estabelecer parcerias com a Defesa Civil, NUPDEC (Núcleo Comunitário de Proteção e Defesa Civil) e NUDEC (Núcleo de Defesa Civil).  Uma ideia é a formação da Com-VidAção (Comissão de Prevenção de Desastres e Proteção da Vida).

Em resumo, os dados coletados em cada pluviômetro da rede observacional (i), quando compartilhados com o Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil, se tornam informações importantes para a comunicação dos alertas de desastres, facilitando a tomada de decisão (ii). A escola se torna produtora de conhecimentos científicos ao realizar o monitoramento, a análise dos períodos de chuvas, sua duração, intensidade e distribuição. E cada comunidade pode se comparar com outras redes de observação do país (iii e iv). O diálogo da Ciência Cidadã com as comunidades escolares e seus conhecimentos (intergeracional, tradicional e originário) gera saberes fundamentais para o enfrentamento dos efeitos das mudanças climáticas, causados por eventos extremos (v e vi).

Este círculo virtuoso, que transforma dados em informações, conhecimentos em saberes; ajuda na autoproteção e redução das vulnerabilidades das comunidades. Isto pode salvar vidas!

6. Recursos

  • Garrafa PET, tesoura, estilete, régua, caneta permanente e fita adesiva para confecção do pluviômetro artesanal; 
  • Tabela de monitoramento para o registro diário de chuva;
  • Telefone celular com o aplicativo Dados à Prova d´Água para compartilhamento dos dados produzidos;
  • Computador para navegação na plataforma Dados à Prova d ‘Água.

7. Tempo estimado e periodicidade

Esta atividade deve ser realizada a médio e longo prazo, pois para o monitoramento das chuvas na prevenção de desastres é necessária a observação diária e constante com o compartilhamento de dados por meio do App. E isso proporcionará um conjunto maior de dados para análise.

8. Produtos

Produtos de ciência e pesquisa: produção textual – relatórios, artigos científicos – medições, gráficos, mapas conceituais, planilhas e tabelas dos dados de monitoramento  das chuvas. 

Produtos de monitoramento e alerta: o pluviômetro, a rede observacional Pluvipet, mensagens de alerta e estudo dos dados cidadãos no App e Painel de Observações (dashboard). 

Produtos de comunicação: páginas em redes sociais, boletins, infográficos, podcasts, vídeos curtos, trends, palestras, relatórios (fotográficos, Estudo do Meio).

OBS: os produtos podem ser disponibilizados no site do Programa Cemaden Educação, na área da sua escola. Inscreva sua instituição.

9. Avaliações sugeridas

As atividades devem ser avaliadas segundo o aprimoramento do conhecimento, desenvolvimento de atitudes, hábitos e valores definidos de acordo com as componentes curriculares, com destaque para:

  • Vivência na atividade científica com regularidade no processo de coleta e compartilhamento de dados cidadãos de chuvas;
  • Identifica padrões numéricos e interpretação de unidades de medida e conversões;
  • Interpreta os dados de chuvas e o risco de desastres – inundação, escorregamento de terra, secas e outras condições meteorológicas.
  • Participa na divulgação e socialização dos dados para prevenção de situações de riscos na comunidade.

10. Ficha técnica

Desenvolvimento: 

Fase 1 (2014-2023): Ana Gabriela Araújo, Rachel Trajber  e Victor Marchezini.

  • Colaboradores Cemaden: Victor Marchezini, Maria Rita Fonseca, Maria Francisca Velloso, Naiane Araújo, Sílvia Saito, Erica Goto, Wendell Farias, Marcus Bottino, Izabelly Costa, Carla Prieto, Regina Alvalá e Carlos Nobre.
  • Colaboradores Externos: Escolas do projeto piloto: EEEM Monsenhor Ignácio Gióia – São Luiz do Paraitinga/SP; EEEFM Paulo Virgínio – Cunha/SP; EEEFM Profª Maria Alice Alves Pereira – Ubatuba/SP. 

Fase 2 (2024): Aloísio Lellis de Paula, Antonio Fernando Silveira Guerra, Carolina Franco Esteves, Débora Olivato, Felipe Augusto Santos, Jeniffer de Souza Faria, Maria Francisca Velloso, Melannie Russo, Patrícia Mie Matsuo, Rachel Trajber e Rafael Damasceno Pereira.

  • Colaboradores Externos: Escolas, defesas civis e instituições participantes do Projeto Dados à  Prova d´Água – Aplicativo e ciência cidadã: polinização nas escolas e unidades da defesa civil – WPD++. E.E.E.M.I. Prof° Nelson do Nascimento Monteiro – São José dos Campos / SP.