O projeto Dados à Prova d ‘Água segue a todo vapor no engajamento de pessoas na governança sustentável de riscos de enchentes para resiliência urbana! No último dia 4 de maio de 2024 realizou  o segundo encontro virtual que envolveu  polinizadores/as, escolas, defesas civis, comunidades e outras organizações sociais de todo o Brasil e da Colômbia. Polinizadores/as é como são chamadas as pessoas participantes das ações, disseminam conhecimentos e agregam ainda mais pessoas na rede em Ciência Cidadã. Nesta edição da formação do WPD+++, ou Waterproofing Data – Expansion Latin America – WPD-EX – que marca a sua dimensão de expansão para a América Latina, a atenção estava voltada para a tragédia ocorrida na região sul brasileira, em que muitas cidades do estado estão sofrendo com as inundações e alagamentos provocados pelo grande volume de chuvas.

A sessão foi aberta pela coordenadora do programa Cemaden Educação, Rachel Trajber, que sublinhou a importância da Educação em Redução de Riscos de Desastres e da Educação Ambiental Climática como principais frentes de enfrentamento e adaptação para os problemas que estão sendo vivenciados na atualidade. Rachel enfatizou:

“não estamos vivendo uma crise, não haverá um novo normal após as tragédias ocorridas. Crises são pontuais, elas acontecem e passam. O que estamos vivendo agora é um novo regime climático com o qual vamos precisar aprender a conviver de maneira resiliente e sustentável”. 

A coordenadora lembrou ainda que, na ocasião da primeira formação do WPD+++, os/as participantes do projeto abordaram o desastre de Petrópolis-RJ e, agora, poucos meses depois, já se fala em uma nova tragédia, de grandes proporções: “da pandemia à emergência climática”. Por esse motivo, torna-se cada vez mais evidente a necessidade de desenvolver uma cultura da percepção de riscos e ações para o enfrentamento dos desastres advindos dos fenômenos climáticos a partir da interferência humana na teia de sustentação da vida. 

Como explicou Rachel:

a gente precisa ter em mente que os desastres vão continuar acontecendo com mais frequência, e em locais onde não aconteciam antes. Porque da pandemia até a emergência climática, sendo que ambas estão relacionadas, os desastres denunciam as nossas vulnerabilidades locais e mostram como a questão é ampla e complexa a qual  podemos chamar de sistêmica, construída historicamente pelos seres humanos. A emergência climática é antrópica. Nós precisamos voltar para a sustentabilidade. As comunidades indígenas e outras culturas estão sofrendo muito com essa vulnerabilidade criada por um determinado tipo de sociedade”. 

Escolas participantes apresentam os trabalhos realizados a partir do WPD+++

Assim como na primeira edição de março, a formação online tem um momento reservado para que instituições que fazem parte da rede do Programa CEdu, a partir do projeto Dados à Prova d’ Água, apresentem o seguimento dos seus trabalhos com a instalação dos pluviômetros artesanais e a coleta e medição participativa dos dados das chuvas de cada localidade. 

Com isso, os/as polinizadores/as apresentam as problemáticas socioambientais de cada região que representam e convidam ainda outros/as educadores/as participantes das unidades escolares para mostrarem os vídeos gravados com estudantes durante o período. Nesse encontro, porém, a apresentação da polinizadora Sônia Zakrzevski, do Rio Grande do Sul, foi recebida com mais emoção:

Todos/as devem estar acompanhando pelos veículos de comunicação a tragédia climática que nós estamos vivenciando em nosso estado. A gente sabe que todos esses impactos da mudança climática estão atingindo de forma desigual, diferentes grupos e diferentes localidades do nosso país e do nosso estado também. A nossa região foi impactada de uma forma muito grande pelas chuvas que ocorreram nos dias 2 e 3 de maio, com alagamento, praticamente, de todas as nossas cidades. Erechim é um município pólo da região, e temos municípios nos arredores que são de pequeno porte, com mil habitantes. As cidades tiveram as áreas urbanas alagadas, as comunidades rurais foram muito impactadas, nossos municípios são, essencialmente, rurais, baseados na agricultura e na pecuária, então foram extremamente impactos por perdas em suas atividades produtivas. Podemos dizer que as vidas foram preservadas na nossa região, isso é motivo de alegria, por um lado estamos contentes em função disso, mas levaremos muito tempo para nos refazer, nos organizar, e precisamos cada vez mais montar estratégias de educação ambiental. Afinal, ela tem se mostrado como é extremamente fundamental para mobilizar toda a nossa população para a construção e fortalecimento da nossa capacidade de adaptação e resiliência frente aos desastres vivenciados. A nossa região, neste momento, está vivenciando todos esses desastres associados a questão do volume imenso de chuvas e tudo que nós não conseguimos desenvolver ao longo do tempo para enfrentar essas situações, problemas associados à drenagem de áreas úmidas, problemas de remoção de vegetação que chamamos de mata ciliar, até porque, naturalmente, teríamos matas ao redor dos corpos hídricos. E tudo começa a acontecer a partir da década de 60 quando começamos a implantar um novo modelo de agricultura baseado na exploração mais intensiva dos recursos naturais, começamos a ter migração das pessoas das áreas rurais nas cidades, falta de planejamento das cidades… A educação é extremamente importante nesse sentido.

A pesquisadora Débora Olivato, do programa Cemaden Educação, aproveitou o momento para mostrar o tipo de produto que as pessoas envolvidas no projeto WPD+++ podem gerar a partir do uso da plataforma, Dashboard, que é usada para o recebimento e distribuição dos dados sobre o volume de chuvas em cada território: “A partir da análise dos dados, você pode promover debates, produzir informes, páginas em redes sociais, boletins, infográficos, podcasts, vídeos curtos, trends, palestras, relatórios e mais“. A fala de Débora vem ao encontro do pedido da polinizadora e professora Sônia, do Rio Grande do Sul: “produzir conhecimento sobre o assunto faz com que possamos aumentar a cultura da percpeção de risco, tanto no grupo escolar, como na comunidade“.

Polinizadores/as da Colômbia e ação Enlaces

Nesta formação, o projeto recebeu os/as novos/as integrantes do projeto Dados à prova d ‘ água da Colômbia, que contou com a apresentação da polinizadora Doralice Ortiz sobre os trabalhos que estão sendo realizados pelas escolas de Manizales e Bogotá em diálogo com as escolas brasileiras. 

E para facilitar a participação de todos/as os/as envolvidos/as neste projeto que agora se estende à América Latina a partir do país colombiano, a pesquisadora Viviana Aguilar Muñoz se encarregou de traduzir as falas em português para o espanhol; enquanto os/as brasileiros/as passam também a se acostumar com as apresentações no outro idioma, criando, com isso, um diálogo aberto por meio da Ciência Cidadã e do monitoramento participativo do volume de águas de chuva nos dois países. 

Diego Pajarito, coordenador do Projeto na Colômbia, aproveitou o momento para mostrar que ambos os países sofrem de problemas socioambientais bastante semelhantes. Como ilustração de sua fala, apresentou uma matéria recente de jornal colombiano que divulgava um grave episódio de enchentes na cidade de Manizales, muito próximo do que está ocorrendo no Rio Grande do Sul, no Brasil, neste momento. “Nós temos problemas muito parecidos, e nós, colombianos, temos ainda vulcões ativos, terremotos e outros tipos de desastres”.

Enlaces é o nome que se deu à ação de colocar em diálogo as comunidades escolares colombianas e brasileiras. Foi concretizada por meio da visita da coordenadora do programa Cemaden Educação, Rachel Trajber, nas cidades de Bogotá e Manizales. A ação, então, viabiliza a troca de experiências participativas de prevenção de riscos de desastres, diálogos interculturais com base em Ciência Cidadã e a produção de conhecimento em Educação em Redução de Riscos de Desastres. Para saber mais sobre a passagem de Rachel pela Colômbia, acesse a matéria já publicada no site do Cemaden Educação. 

WPD+++ na direção de um mundo mais sustentável

Os encontros formativos do WP D +++ são reservados ao compartilhamento das ações das localidades participantes, para atualização/exposição de conhecimentos relevantes aos temas tratados pelo projeto, mas, essencialmente, para fomentar o diálogo entre as pessoas que compõem essa rede de polinizadores/as no Brasil e Colômbia. 

É um ambiente, também, para lembrar que a educação, como instrumento, como campo, não muda o mundo. Ela muda as pessoas e as pessoas é que mudam o mundo. Neste momento, e cada vez mais, estamos vivenciando situações em que isso fica mais evidente. Como disse Rachel, coordenadora do Programa: “nós estamos com a faca e o queijo na mão para contribuir com a transformação societária a partir da educação”. E o Cemaden Educação, e os projetos vinculados, como o Dados à Prova d’ Água, está trabalhando em função disso. 

Para saber detalhes do projeto Dados à prova d’ água, acompanhe as atividades do primeiro e segundo encontro acessando os conteúdos nos links abaixo:

  • Link do primeiro encontro WPD+++ na íntegra.
  • Resumo do primeiro encontro publicado na página do Cemaden Educação.
  • Link do segundo encontro WPD+++ na íntegra.