ECA/USP visita o Cemaden: a educomunicação no novo regime climático
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Cemaden Educação recebe estudantes da USP
No último dia 13, estudantes da Escola de Comunicação e Artes/ECA-USP fizeram uma visita ao Cemaden para um diálogo sobre: Educomunicação e os desafios para ERRD e a Educação Ambiental Climática. A Universidade de São Paulo/USP é a instituição que mais reúne pesquisadores/as sobre o tema, especialmente, a partir da criação da primeira licenciatura em Educomunicação. Este campo de intervenção surgiu no ambiente de conflitos populares da América Latina com a finalidade de deslocar o eixo comunicacional de grupos vulnerabilizados de meros receptores/as ingênuos/as para produtores/as críticos/as de mensagens.
A tragédia que está ocorrendo no estado do Rio Grande do Sul, e que já aconteceu também em outras partes do Brasil – como em Petrópolis-RJ e São Sebastião-SP – evidenciam um problema significativo: a comunicação ruim. Notícias equivocadas e, muitas vezes, falsas e tendenciosas, provocam não somente a desinformação da população como também desviam a continuidade de ações importantes aos grupos afetados por esses desastres. Um exemplo atual é a quantidade de fake news sobre as doações endereçadas ao estado gaúcho que levam pessoas a paralisar os auxílios prestados por receio de que as suas contribuições não cheguem aos lugares certos. Isso faz com que milhares de pessoas deixem de receber água, alimentos, cobertores, colchões e outros materiais tão relevantes para as famílias que estão vivendo em abrigos improvisados.
E o que pode ocorrer, por exemplo, quando o termo risco é interpretado de maneira errada? Ou quando não se tem o conhecimento de que um alerta de alta gravidade emitido é um dos resultados de uma série de possíveis cenários gerados por meio de estudos que não podem ser precisos? Ou ainda, que é extremamente prejudicial considerar que um risco de desastre alertado, e não concretizado, seja sinônimo de uma ciência ou de um órgão de pesquisa que deve ser desacreditado?
O Cemaden – Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais/MCTI – é uma dessas instituições que possuem uma linguagem própria da ciência e que emite documentos, relatórios, mapas e outros recursos para disseminar informação sobre os riscos e alertas de desastres climáticos no Brasil. Realiza esse trabalho com rigor técnico e possui uma assessoria de imprensa preparada para orientar jornalistas que abordam as temáticas. Além disso, os ofícios produzidos pela equipe do Cemaden também são enviados às Defesas Civis de todo o Brasil. Assim, tais informações circulam de diferentes fontes, a partir de cada estrutura de comunicação estadual e municipal, e dependem da tradução de diferentes comunicadores/as.
O Cemaden Educação é um programa do Cemaden e que surgiu há 10 anos, para mobilizar comunidades, escolas, defesas civis e outros agrupamentos sociais a partir da descentralização da informação científica e da criação de redes de aprendizagem por meio da Ciência Cidadã, da Educação Ambiental Climática e da Educação em Redução de Riscos de Desastres. E o Programa faz uso da Educomunicação como uma das importantes estratégias na produção de conteúdo e de processos educativos que envolvem tais temáticas.
Com isso, o Cemaden e o programa Cemaden Educação recepcionam diferentes grupos interessados nos dados sobre os riscos de desastres e, principalmente, nas possibilidades de prevenção e no empoderamento das comunidades para a proteção da vida nos territórios. E na última segunda-feira, dia 13 de maio, recebeu, então, estudantes da licenciatura em Educomunicação da USP para discutir os desafios da abordagem da informação no novo regime climático.
Encontro com a turma da Educomunicação da USP
Na abertura do encontro, o pesquisador do Cemaden, Victor Marchezini. O sociólogo comentou sobre a importância de uma comunicação aberta e direta entre as pessoas na abordagem do tema de desastres, que facilita a participação social nas tomadas de decisão nos territórios. Victor apresentou o projeto Capacidades Organizacionais de Preparação para Eventos Extremos (COPE), que desenvolve com apoio da FAPESP.
Em seguida, Rachel Trajber apresentou os recursos de comunicação utilizados pelo CEdu que têm como base a Educomunicação. Um dos exemplos foi o recém lançado boletim CEdu em Rede – que está movimentando escolas e comunidades para um diálogo sobre o tema de desastres: “Nós queremos chegar em todos os cantos do Brasil, produzir conhecimento junto a cada pessoa no território mas, para isso, precisamos nos comunicar, compreender como essas pessoas percebem esses riscos e construir juntos/as o conhecimento que pode levar às ações concretas de proteção”, afirma Rachel
Pedro Camarinha, especialista em geodinâmica da Sala de Situação do Cemaden, trouxe a discussão para os termos e os fenômenos que são estudados e analisados pelo Centro. Explicou a diferença entre os níveis de alertas e como são projetadas as modelagens antes que tais mensagens sejam emitidas para as Defesas Civis no Brasil. Também mostrou um exemplo da informação que é encaminhada aos órgãos e explicou:
“A informação estritamente técnica não é compartilhada com a população. As pessoas dependem da municipalidade, que é a responsável pela tomada das decisões diante de um alerta de desastres. A política é a que determina as ações de cada território, por meio do conhecimento das legislações e estruturas”.
A fala de Camarinha encontrou a de Marchezini quando ambos ressaltaram a escolha crítica para a representação política de cada localidade e a fundamental atenção que deve ser dada à ciência, para o combate ao negacionismo em todos os setores da sociedade.
Roda de Conversa
Na última parte do programa, Maria do Rosário Orquiza e Ana Paula Veiga, assessoras de Comunicação do Cemaden – expuseram conceitos de jornalismo científico, divulgação científica e comunicação ambiental, apresentando as especificidades de cada área e a importância de conhecer os termos e as fontes utilizadas para produzir a informação. Thaís Brianezi, professora da USP que acompanhou os/as estudantes, aproximou a discussão colocada pelas colegas da Educomunicação e da potência desse fenômeno para a conscientização das pessoas.
As falas foram contextualizadas em distintas experiências e projetos realizados na capital e no litoral de São Paulo, sempre com ênfase em “como podemos ser mais efetivos na comunicação? E como fazer com que mais pessoas tenham acesso à informação qualificada? O encontro viabilizou dúvidas propositivas para desenvolver cada vez mais o pensamento crítico sobre o assunto.
Visita de comitiva da USP ao Cemaden (Fotos: Cemaden Educação)
Encontros no Cemaden e CEdu
Estudantes do Ensino Médio premiados pela Olimpíada Brasileira de Cartografia visitam o Cemaden