A polinização do projeto Dados à prova d’água já começou!
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Sabe por que o Programa Cemaden Educação tem usado o nome “polinizadores/as” para se referir aos/às participantes do projeto Dados à Prova D’Água? Porque tudo começou com uma “jardinagem de dados”.
Eu, particularmente, ainda não tinha conhecido essa ideia. Ouvi durante o primeiro encontro da Formação Polinizadores Projeto Dados à Prova d’ Água que aconteceu sábado 09 de março, durante a exposição do pesquisador brasileiro da Universidade de Glasgow, Prof. Dr. João Porto de Albuquerque. Trata-se de trabalhar com dados científicos de uma forma diferente, descentralizando o que antes ficava somente em poder da academia para circular os dados coletados de um trabalho tão importante com as pessoas que se encontram, justamente, nos locais que sofrem de maior vulnerabilidade socioambiental.
Por meio da Ciência Cidadã as comunidades aprendem, e ensinam entre si, maneiras de monitorar e coletar dados sobre a quantidade de água das chuvas com a ajuda de instrumentos de verificação muito fáceis de produzir e de manusear. O Pluvipet – realizado com garrafas PET – faz as vezes de um pluviômetro: aparelho meteorológico usado para recolher e medir a quantidade de água de chuva em milímetros durante um determinado tempo e local. E o aplicativo Dados à prova d’água, desenvolvido pelo projeto Waterproofing Data (WPD +++), torna possível maior engajamento para a geração e circulação de dados sobre os desastres provocados pelo excesso de água.
Com isso, o que se produz é um diálogo aberto e coletivo, uma disseminação de ideias que geram, de fato, a produção de conhecimento entre diferentes públicos, especialmente, aqueles que, em geral, ficam de fora de tais debates. E mais, esse conhecimento viabiliza a participação social sobre problemáticas que afetam a todos e todas, mas com maior intensidade, quem está situado/a nas regiões mais fragilizadas.
Em conjunto com o Cemaden Educação, o Dados à prova d’água chegou à seguinte questão: como usar dados e construir resiliência às enchentes, inundações, enxurradas, alagamentos e movimentos de massa? É preciso pensar em formas diferentes sobre os dados, como eles são recolhidos, como circulam e como são utilizados para que a gente possa colocá-los na construção de resiliência. Foi assim que chegaram à ideia da jardinagem de dados! Com diferentes pessoas trabalhando para semear esse jardim de informações que, ao florir, promove conhecimento e prevenção aos riscos de desastres. E os/as polinizadores/as, então, são as pessoas que participam e partilham as ideias produzidas nesse coletivo.
Ciência Cidadã: aprendendo a gerar, circular e analisar dados
Como também foi mencionado durante o encontro, o “dado científico” é o resultado de um processo pedagógico. E as escolas e comunidades que atuam em rede neste projeto, passam por processos pedagógicos em que investigam a sua própria realidade. Quem seria mais indicado/a para monitorar as fragilidades de um local senão seus/as próprios/as moradores/as? As pessoas que vivem o ambiente no dia a dia? Conhecem cada pedacinho dos lugares que pesquisadores/as só podem estudar a distância?
Com o processo pedagógico, os/as participantes constroem conhecimentos e instrumentos, sendo capazes de proteger as suas famílias e a vizinhança. E ainda ingressam em uma rede de compartilhamento de informações para que, juntos/as – as comunidades e a academia – possam construir formas mais potentes de prevenir os riscos de desastres. É exatamente desse fluxo que está se falando quando apontam para a ciência cidadã em redução de riscos de desastres.
E sabe algo muito interessante que esse projeto tem feito com base nessa educação? Expandiu as ações em escolas no Brasil também para a Colômbia. Diego Pajarito, coordenador do projeto Dados à Prova D ́ Água em sua extensão para América Latina, colombiano que trabalha na Universidade de Glasgow com o Professor João Porto, convidou pesquisadores/as da Colômbia. O primeiro Encontro de Formação aconteceu em março com muitos sotaques das cinco regiões do País – Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e São Paulo, Goiás e DF, Amazonas, Maranhão e Paraíba, e ainda o portunhol – é a Educação em Redução de Riscos de Desastres (ERRD) falada de muitas maneiras.
Somente uma parte dos/as participantes da primeira Formação Polinizadores do Projeto Dados à Prova D´Água, no dia 09 de março de 2024.
O significado das coisas
Nesse mesmo encontro, Rachel Trajber e a Débora Olivato, do Programa Cemaden Educação, explicaram um pouco mais sobre o significado de palavras e conceitos que ouvimos com frequência, mas acabamos por não pensar sobre seu efeito na nossa rotina. Por exemplo: o risco é o que antecede um desastre. E o desastre é o fim de um processo, que estamos acompanhando com bastante intensidade e frequência neste novo regime climático.
Assim, a ERRD requer a aprendizagem da identificação dos riscos, para que possamos construir formas de prevenir e nos proteger dos desastres. Essas tragédias, infelizmente, não são naturais, causadas pelas chuvas ou a variabilidade cíclica do clima, elas são causadas pela interferência humana na teia de sustentação da Vida no planeta.
É por isso que a ciência cidadã tem extrema importância. Se estamos presos/as em uma engrenagem insustentável em que acabamos com menos acesso às áreas naturais a que temos direito, igualmente, de desfrutar, como as florestas, os rios e ar saudáveis, como podemos agir para transformar? O enfrentamento dessa realidade conta com a Educação Ambiental Climática! Ao investigar os nossos lugares e compartilhar nossos conhecimentos participamos de uma verdadeira rede de proteção à vida.
A vida não tem tempo!
Paulo Freire, inspirador e mestre do projeto, anunciou a importância da ciência caminhar lado a lado com as pessoas. Afinal, a vida não espera um artigo ser publicado para acontecer. Isso fica muito claro quando a pesquisadora Débora apresentou um mapa dos principais desastres por região do Brasil, divulgado pela Defesa Civil Nacional em 2009, e perguntou: “O que é o risco de desastre para você?”
Um ponto alto da formação foi construir a nuvem de palavras com todos/as os/as participantes virtualmente presentes. Neste primeiro encontro foram 32 escolas, 5 polinizadores/as – ou líderes locais – das 5 regiões do País. E algumas das palavras que mais me chamaram a atenção, foram: sobrevivência e falta de juízo.
As pessoas que integram e polinizam essa rede conhecem como ninguém o significado dessas palavras e se tornam porta-vozes de suas comunidades. E o resultado desse processo é emocionante! Difícil conter o sentimento de orgulho ao assistir aos vídeos que foram enviados por todas as escolas dessa trama de pensamentos, perspectivas, ideias…
A formação do projeto Dados à Prova d’água está começando, ainda estão previstos mais dois encontros, em 27 de abril e 06 de junho. Se você perdeu o primeiro encontro, pode assistir aqui e acompanhar pelas redes sociais do Cemaden Educação. Para saber mais, clique aqui.
Para saber mais, pode clicar aqui.
Essa é uma iniciativa internacional que também chamamos de WPD +++ , conta com pesquisadores/as do Urban Big Data Centre da Universidade de Glasgow – UK, em parceria com Programa Cemaden Educação (Cemaden/MCTI), Instituto Geográfico “Agustin Codazzi” e Universidade Nacional da Colômbia.