“Nenhuma parte da Amazônia está segura!”
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Bernardo Flores, Coautor de estudo sugerindo que metade da floresta pode colapsar em meados do século diz que só zerar desmatamento não basta se aquecimento global não for contido.
A revista científica Nature trouxe nesta semana em sua capa um petardo: um estudo liderado por pesquisadores brasileiros sugere que, até 2050, algo entre 10% e 47% da floresta amazônica estará exposta a perturbações que podem rapidamente desencadear seu colapso.
O estudo é possivelmente o mais completo publicado até agora sobre o temido “ponto de virada” da Amazônia, o momento a partir do qual o bioma deixa de ser uma floresta e vira uma mixórdia de ecossistemas mais parecidos com uma savana empobrecida. Além da tragédia para a biodiversidade, essa transição seria uma catástrofe para o clima, já que a Amazônia estoca, em suas árvores e em seu solo, o equivalente a uma década de emissões humanas de gases de efeito estufa.
Um grupo de 24 pesos-pesados da ciência ambiental (que inclui um dos proponentes originais da ideia do colapso amazônico, o paulista Carlos Nobre) liderados por Marina Hirota e Bernardo Flores, ambos da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), fez um mapa detalhado das áreas amazônicas hoje expostas a perturbações diversas – desmatamento, degradação, queimadas, incêndios e fragmentação – e o cruzou com informações de modelos climáticos usados pelo IPCC, o painel do clima da ONU.
Eles concluíram que existe um número mágico na hidrologia da região: 1.800. Essa é, em milímetros, a quantidade de chuva por ano de que a floresta precisa para se manter floresta. A combinação entre degradação e secas induzidas pela crise climática está empurrando vastas porções da floresta para a zona abaixo dos 1.800 milímetros. Quando isso acontece, a mata entra num estado chamado de “bi-estável”, no qual qualquer peteleco pode empurrar todo o ecossistema para o colapso, dando lugar a outro tipo de vegetação. Fonte: Observatório do Clima. Matéria atualizada em 14 março 2024.