Prof. Anderson Mululo Sato

Licenciado para Capacitação no CEMADEN – Programa CEMADEN Educação

Professor Adjunto do Departamento de Geografia e Políticas Públicas

Instituto de Educação de Angra dos Reis – Universidade Federal Fluminense

 

Conceito tem origem linguística como “coisa concebida” ou “formada na mente” e pode ser entendido como uma representação mental e linguística de um objeto concreto ou abstrato. Conceitos, assim como a própria formas de vida, evoluem, isto é, mudam ao longo do tempo e se adaptam aos novos contextos. Com o conceito “Bacia Escola” não foi diferente. De um surgimento que inicialmente o definia como “uma ferramenta didática para formação da população quanto aos aspectos hidrológicos” (Silveira, 2001) passou a integrar a perspectiva de participação social (Mediondo, 2002) e também foi entendida como “qualquer bacia experimental que sirva para pesquisas científicas e atividades de educação ambiental” (Kobiyama et al., 2007).

Como a água é o elemento central na concepção das bacias hidrográficas, sendo um elo fundamental de ligação da sociedade-natureza e da própria sociedade, a evolução do conceito Bacia Escola também passou a integrar a perspectiva da sustentabilidade, um dos principais elementos nos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável na Agenda 2030 da ONU, e a redução dos riscos de desastres, sendo os desastres entendidos como indicadores de insustentabilidade socioambiental.

Esta nova perspectiva foi consolidada a partir da integração do programa CEMADEN Educação (@cemaden.educacao) com o Instituto de Educação de Angra dos Reis da Universidade Federal Fluminense (@iear_uff@uffoficial) no desenvolvimento do projeto “Educação para redução de riscos de desastres em Bacias Escolas: ciência cidadã em novos espaços de governança” que envolveu pesquisadores de ambas as instituições. A nova concepção de Bacia Escola desenvolvida neste projeto traz outras inovações que merecem destaque, dentre elas o entendimento que a Bacia Escola é mais do que a concretude de uma bacia hidrográfica e sim uma verdadeira Tecnologia Social, pois sua modelagem atende aos requisitos de simplicidade, baixo custo, fácil aplicabilidade e reprodução e impacto social comprovado, conforme certificado no Catálogo de Tecnologias Sociais da Universidade Federal Fluminense (Sato, 2021). Outra inovação está em explicitar a associação de Bacia Escola com Ciência Cidadã, conforme inicialmente sugerido por Kobiyama et al. (2020) e seguido por Giacomel et al. (2021). Segundo a Rede Brasileira de Ciência Cidadã (RBCC, 2021):

A ciência cidadã deve ser entendida de forma ampla, abrangendo uma gama de tipos de parcerias entre cientistas e interessado(a)s em ciência, para produção compartilhada de conhecimentos baseados na prática científica e na integração com outros saberes, com potencial para promover:

  1. O engajamento do público em diferentes etapas da prática científica;
  2. A educação científica e tecnológica, e;
  3. A co-elaboração e implementação de políticas públicas sobre temas de relevância social e ambiental.

Também relaciona-se a Bacia Escola com a Hidro-Solidariedade, um conceito e valor ainda pouco conhecido pela maioria dos cidadãos, que expressa o compromisso pelo qual as pessoas cuidam e integram a sociedade-natureza através das águas. Na gestão das águas e na prevenção de desastres associados à água a hidro-solidariedade tem grande relevância, pois passa a reforçar a ética dos cidadãos “de montante” cuidarem dos cidadãos “de jusante” tanto nas encostas quanto ao longo dos canais de drenagem, o que pode se expressar em sistemas de alerta a inundações de base comunitária, cuidado no lançamento de águas servidas e esgoto, reparo de vazamentos nas tubulações e estruturas de drenagem, aprimoramento de sistemas de captação de água de chuva, dentre outras. Não há ineditismo em relacionar Bacia Escola e Hidro-Solidariedade, pois autores como Mediondo (2002) e Kobiyama et al. (2020) já haviam reforçado esta relação. A inovação está em incorporá-la e destacá-la, juntamente com a ciência cidadã, a educação ambiental e a gestão ambiental participativa, no rol de instrumentos para alcançar a sustentabilidade e a resiliência a desastres.

Por fim, chega-se à definição construída nesta parceria do IEAR/UFF com o CEMADEN que define Bacia Escola como “uma tecnologia social que adota uma bacia ou sistema hidrográfico em busca da sustentabilidade e resiliência a desastres por meio da gestão ambiental participativa integrando ciência cidadã, educação ambiental e hidro-solidariedade”. Esta nova conceituação de Bacia Escola tem se mostrado um importante instrumento didático que integra muitas atividades do próprio CEMADEN Educação além de um potente instrumento de transformação socioambiental, como demonstrado no projeto Bacia Escola do Retiro, em Angra dos Reis/RJ, onde comunitários, professores e estudantes formam-se por meio de uma Ecologia de Saberes, transformam realidades e inspiram outras comunidades a ampliar a rede de sustentabilidade e resiliência a desastres na Costa Verde fluminense.

Mais informações sobre o projeto Bacia Escola do Retiro: http://www.baciaescola.eco.br/